Pular para o conteúdo principal

Tarot - O castelo dos destinos cruzados

Tarot em Evidência! 
Livro






As cartas estão jogadas. E tal como o lance de dados de Mallarmé, elas jamais abolirão o acaso. Disso parece falar Italo Calvino em O castelo dos destinos cruzados: da aleatoridade do mundo, da multiplicidade dos destinos, das probabilidades dos encontros, do jogo combinatório dos significados e das existências.
Em um castelo - ou será uma taverna? - , algumas personagens sentadas em torno de uma mesa contam suas histórias. Mas como estão impossibilitadas  de falar por algum motivo desconhecido, usam um baralho de tarô para narrar suas aventuras e desventuras. As mesmas cartas, porém, servem para várias histórias, e cada uma delas comporta múltiplas interpretações. Qual a mais verdadeira, não importa. Nos relatos da taverna - ou será um castelo? -, o escritor ilusionista embaralha os destinos e se entrega à vertigem dos jogos combinatórios, ao prazer cerebral de colocar as cartas umas ao lado das outras para formar uma espécie de quadrado mágico, sempre aberto, porém, a novas leituras.

"O vento ou as ondas? As linhas tracejadas ao fundo da carta poderiam indicar que a grande maré já está submergindo a copa da árvore e toda a vegetação se desfaz num ondular de algas e tentáculos. Eis como foi atendida a escolha do homem que não sabia escolher: sim, o mar, ele agora o tem, pois nele afunda de cabeça para baixo, balançando entre os corais do abismo, Enforcado pelos pés entre sargaços que flutuam à meia água sob a superfície opaca do oceano, e varre as profundezas íngremes com seus cabelos que escorrem verdejantes de algas marinhas. (Então seria mesmo esta a carta na  qual Madame Sosóstris, vidente famosa mas de nomenclatura pouco precisa, ao adivinhar os destinos privados e gerais de um emérito funcionário da Lloyd`s, teria reconhecido um marinheiro fenício afogado?)."


Não há nada de oculto ou hermético na leitura que o autor faz das belas e enigmáticas cartas que, diz a lenda, os ciganos levaram do Egito para a Europa no final da Idade Média e que, acreditam muitos, são dotadas de poderes divinatórios. Mas há muito de método rigoroso e prazer lúdico, erudição e conto popular nestas páginas cuja gênese Calvino descreve numa nota final, reveladora das artes e artimanhas de um dos maiores escritores italianos do século XX.




Lucia
Boa leitura.





O Castelo dos  Destinos Cruzados - Italo Calvino - Companhia das Letras

Comentários